O trabalho paciente dos milênios transformou essas relações.
A mulher-mãe e o homem-pai deram acesso a novos sopros de renovação do espírito. Com base nas experiências sexuais, a tribo converteu-se na família, a taba no lar, a defesa armada cedeu ao direito, a floresta selvagem transformou-se na lavoura pacífica, a barbárie ergueu-se em civilização, o grito elevou-se ao cântico, e, estimulada pela força criadora do sexo, a coletividade humana avança, vagarosamente porém, para o supremo alvo do divino amor.
Desejo, posse, simpatia, carinho, devotamento, renúncia, sacrifício, constituem aspectos dessa jornada renovadora. Por vezes, a criatura demora-se anos, séculos, existências diversas de uma estação a outra. Raras individualidades conseguem manter-se no posto da simpatia, com o equilíbrio indispensável. Poucas se libertam da posse sem duelos cruéis com os monstros do egoísmo e do ciúme.
Assim como se submete o diamante ao disco do lapidário, para atingir o pedestal da beleza, assim também o instinto sexual, há que dobrar-se aos imperativos da responsabilidade, à disciplina e aos ditames da renúncia.
Estas conclusões, não nos devem induzir a programas de santificação compulsória no mundo carnal. Nenhum homem conseguiria negar a fase da evolução em que se encontra. A Natureza nos ampara sempre, tanto mais forte quanto mais decidido é o nosso propósito de progredir na direção do Bem Supremo.
Devido a incompreensão sexual, incontáveis crimes campeiam na Terra, determinando estranhos e perigosos processos de loucura, em toda parte.
Muitos obstinam-se a conservarem deprimentes estados psíquicos. O ciúme, a insatisfação, o desentendimento, a incontinência e a leviandade alastram terríveis fenômenos de desequilíbrio.
Não solucionaremos tão complexo problema do mundo simplesmente à força de intervenção médica, embora seja admirável a contribuição da ciência no terreno dos efeitos, sem contudo atingir a intimidade das causas.
A personalidade não é obra da usina interna das glândulas, mas produto da química mental.
A endocrinologia poderá fazer muito com uma injeção de hormônios, para socorrer as coletividades celulares, mas não sanará lesões do pensamento.
A genética poderá interferir nas câmaras secretas da vida humana, perturbando a harmonia dos cromossomos, no sentido de impor o sexo ao embrião, mas não atingirá a zona mais alta da mente feminina e masculina, que manterá característicos próprios, independente da forma exterior ou das convenções estatuídas.
A medicina inventará mil modos de auxiliar o corpo atingido em seu equilíbrio interno, entretanto, compete a nós outros praticar a medicina da alma com o fim de amparar o espírito.
É mister acender a luz da compaixão fraterna, traçando caminhos definidos à responsabilidade individual; mais amor e as derrocadas cederão lugar a experiências santificantes.
Aos corações desalentados lembremos que tal é o sexo em face ao amor, quais são os olhos para a visão, e o cérebro para o pensamento: não mais do que aparelhamento de exteriorização.
É um erro lamentável supor que só a perfeita normalidade sexual possa servir de templo às manifestações afetivas. O campo do amor é infinito em sua essência e manifestação. Insta fugir às aberrações e aos excessos; contudo, é imperioso reconhecer que todos os seres nasceram no Universo para amar e serem amados.
Por Dalva Helvig Nikolak
Fonte: livro No Mundo Maior, de Francisco Cândido Xavier, editora Federação Espírita Brasileira.
Continua no próximo Post – RELACIONAMENTOS sob o olhar da espiritualidade – Parte III