A construção da felicidade real não depende do instinto satisfeito. A permuta de células sexuais entre os seres encarnados, garantindo a continuidade das formas físicas em processo evolucionário, é apenas um aspecto das multiformes permutas de amor.
O cativeiro nos tormentos do sexo não é problema que possa ser solucionado por literatos ou médicos a agir no campo exterior; é questão da alma, que demanda processo individual de cura e sobre esta, só o espírito resolverá no tribunal da própria consciência.
Os escravos das perturbações do campo sensorial só por si mesmos serão liberados, isto é, pela dilatação do entendimento, pela compreensão dos sofrimentos alheios e das dificuldades próprias, pela aplicação, enfim, do “amai-vos uns aos outros.”
Na Terra, os psicologistas encarnados, em número considerável, esposaram os princípios freudianos como bases de investigação dos distúrbios da alma. Para o grande médico austríaco, quase todas as perturbações psíquicas se radicam no sexo desviado. Alguns discípulos dele modificaram-lhe algo as teorias.
Os movimentos da psicologia analítica, chefiados por Freud e por duas correntes distintas de seus colaboradores, centralizou o ensino no impulso sexual, conferindo-lhe caráter absoluto, enquanto as duas correntes de psicologistas, inicialmente filiadas a ele, se diferenciaram na interpretação.
A primeira estuda o anseio congênito da criatura, no que se refere ao relevo pessoal, enquanto a segunda proclama que, além da satisfação do sexo e da importância individualista, existe o impulso da vida superior que tortura o homem terrestre mais aparentemente feliz.
Para os estudiosos essencialmente freudianos, todos os problemas psíquicos da personalidade se resumem à angústia sexual; para grande parte de seus colaboradores, as causas se estendem à aquisição de poder e a idéia de superioridade.
As três escolas se identificam, todas elas portadoras de certa dose de razão, faltando-lhes, todavia, o conhecimento básico do reencarnacionismo.
Não podemos afirmar que tudo, nos círculos carnais, constitua sexo, desejo de importância e aspiração superior; no entanto, podemos assegurar que tudo na vida é impulso criador. Todos os seres que conhecemos, do verme ao anjo, são herdeiros da Divindade que nos confere a existência e todos somos depositários de faculdades criadoras.
Pequeno grupo de homens e mulheres, por fim, após atingir o equilíbrio sexual na zona instintiva do ser e depois de obter os títulos que lhes confere seu trabalho e com os quais dominam na vida, regendo as energias próprias, em pleno regime de responsabilidade individual, passam a fixar-se na região sublime, na super-consciência, não mais encontrando a alegria integral no contentamento do corpo físico ou na evidência pessoal, procuram alcançar os círculos mais altos da vida, absorvidos em idealismo superior. Para esses, o sexo, a importância individual e as vantagens do imediatismo terrestre são sagrados pelas oportunidades que oferecem aos propósitos do bem fazer.
De um modo ou de outro, tudo isto são sempre as faculdades criadoras, herdadas de Deus, em jogo permanente nos quadros da vida. Todo ser é impulsionado a criar, na organização, conservação e extensão do Universo.
Muita vez, as criaturas instituem o mal, desviam a corrente natural das circunstâncias benéficas, envenenam as oportunidades, estacionando longuíssimo tempo em tarefas reparadoras ou expiatórias; entretanto, ainda aí é forçoso observar a manifestação incessante do poder criador que nos é próprio, mesmo naqueles que se transviam… Em verdade, mesmo assim, organizando e reorganizando as próprias ações, adquirem o patrimônio bendito da experiência; e com a experiência, alcançam a luz, a paz, a sabedoria e o amor com que se aproximam de Deus.
Então, se a psicologia analítica de Freud e de seus colaboradores avançou muito no campo da investigação e do conhecimento, resolvendo em parte certos enigmas do psiquismo humano, falta-lhe a chave da reencarnação para solucionar integralmente as questões da alma.
É impossível resolver o assunto em caráter definitivo, sem as noções de evolução, aperfeiçoamento, responsabilidade, reparação e eternidade.
Não vale descobrir complexos e frustrações, identificar lesões psíquicas e deficiências mentais, sem as remediar.
Enfim, não satisfaz o simples exame da casca, é essencial atingir o cerne e determinar modificações nas causas. Para isto, é imprescindível confessar a realidade do reencarnacionismo e da imortalidade.
Por Dalva Helvig Nikolak
Fonte: livro No Mundo Maior, de Francisco Cândido Xavier, editora Federação Espírita Brasileira.