Em maio do ano passado estávamos tomando café – nosso lanche da tarde – eu, meu marido e a tia Su.
A tarde estava num dos seus dias nublados e chuvoso, que convidava a um bom papo.
Conversa pra cá, conversa pra lá, caímos num assunto curioso, para nós interessante. Até então, eu não sabia que a tia Su tinha dessas histórias para contar.
Pois bem, como sou da área, me coube incentivar a conversa, vale dizer, que já não lembro qual foi o “gatilho” que nos levou a isso.
Partindo da idéia que há vida após a morte, daí vem os relatos.
Tia Su, contou que em sua meninice, certa noite, deitada e acordada em sua cama, viu a silhueta de uma mulher passar, caminhar em seu quarto e ir em direção a parede, a qual transpassou, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
A menina Su, chamou a mãe, que veio do quarto ao lado para ver o que a filha queria. Coisa que a mãe dela sempre fazia, era verificar à noite se ela estava bem coberta.
Então, nessa noite, a tia Su indagou a mãe se era ela quem havia estado no quarto instantes antes.
A resposta foi não.
Tia Su relatou a mãe o que ela tinha acabado de ver.
A mãe, provavelmente para não preocupá-la, disse que ela devia estar sonhando, só isso, que não era nada.
A menina Su pensou: “estou super bem acordada, não foi sonho”.
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Tia Su tinha uma outra história, bem pessoal, por isso, bem carinhosa é a lembrança que guarda deste fato.
Sua mãe faleceu e Su foi uma das filhas que ela deixou aqui neste mundo.
Certa noite, naquele período entre a vigília e o sono, a Su viu sua mãe em seu quarto.
A mãe apresentou-se a ela, com algo cobrindo o rosto.
A Su, em pensamento, disse a mãe que não estava podendo ver o rosto dela.
Imediata resposta, aconteceu também em pensamento: “Eu é que vim te ver, minha filha”.
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Meu marido fez comentários, contou também algumas passagens.
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Para amenizar um pouco o tema, que invocava longínquas lembranças de todos nós, dei seguimento ao nosso falatório, por vezes interrompido para trocarmos nossa xícara de café com leite, por outro bem quentinho.
Esclareci a tia Su, que esse tipo de experiência não envolve apenas pessoas desencarnadas, que acontece também, e da mesma forma, com pessoas que estão “bem vivinhas” aqui no mundo físico.
Foi minha vez de contar uma experiência.
Na época, eu estava na faixa dos 30 anos de idade. Trabalhava em um órgão governamental, na função de Administradora. De quando em quando meu trabalho exigia que eu viajasse.
Estava casada e com um filho pequeno.
Meu trabalho era muito interessante, gratificante mesmo e eu o desempenhava, sempre, com muito gosto.
Desta feita, eu estava no interior do meu querido Estado do Paraná. Como era regra entre nós, toda noite nos falávamos ao telefone – meu marido, filho e minha mãe.
Em uma dessas noites, eu já estava tão cansada e tão saudosa da minha casa e dos meus queridos, que ao nos falarmos, disse a eles o quanto eu gostaria – de naquele momento – estar com eles em casa e não em outra cidade, bem longe. Eu estava mesmo, quase desesperada, para não estar ali naquele lugar. O sentimento era muito intenso e agora ao relembrar, me passa na mente, facilmente, como um filme.
Nos despedimos, fomos dormir, cada um em local diferente, é claro.
Essa noite foi torturante, me debatia frente esse sentimento de querer sair voando em direção à casa.
Tia Su era toda ouvidos.
Chamei meu marido ao relato, perguntando se ele lembrava bem dessa experiência.
Confirmando, ele continuou a contar.
Na dita noite ele dormiu e não se passou muito tempo, acordou.
Quando acordou ele me viu entrar pela porta do nosso quarto.
Falamos e falamos …
Voltou a dormir.
Na primeira oportunidade, quando voltei da viagem, ele me falou sobre isso. Eu disse que não tinha nenhuma consciência disso e que me era muito forte “o desejo de estar em casa”.
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Ainda na troca das xícaras por café quente, comentei que já havia ouvido histórias semelhantes, envolvendo pessoas “de carne e osso” como dizemos. Como por exemplo, de um amigo que para ele era bem comum e frequente vivenciar experiências desse tipo.
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Tia Su, não ficou quieta e voltou a cena dizendo: “uma coisa puxa a outra, não é?”.
Quando eu era moça e casada com meu primeiro marido, um belo dia …, pela manhã, levanteri e me dirigi a parte externa da casa. Como fazia todas as manhãs eu tirava água do poço e reservava em tambores, para facilitar o trabalho.
Nessa manhã, meu marido ficou dormindo em nosso quarto.
No fundo do quintal, havia o banheiro da família.
Enquanto eu executava o trabalho de tirar água e reservar no tambor, vi meu marido passar por mim em silêncio e se dirigir ao banheiro no fundo do quintal.
Olhei para ele espantada, porque ele devia estar na cama dormindo.
Continuei meu trabalho.
Um tempo depois, fui para o interior da casa. Meu marido havia acordado. Disse a ele que o tinha visto passar por mim e ir ao banheiro, a poucos instantes.
Esperei sua confirmação.
Não houve confirmação. Disse que era impossível, pois estava dormindo e tem certeza absoluta que não saiu da cama, em momento algum.
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Moral da história, se é que há alguma:
quando somos movidos por algum tipo de grande necessidade e também por intenso e profundo desejo, podemos, nos desdobrar e inconscientemente realizamos a tarefa.
Acertamos o alvo.
Então, grande necessidade, um imenso desejo, entre outros, são fatores que nos levam a passar por experiências inusitadas na vida.
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Assim terminamos os “causos” e também o nosso café.
por Dalva Helvig Nikolak